Ontem tive o prazer de participar de um evento que me tocou bastante: a comemoração dos 45 anos do Serviço de Psicologia do InCor – Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da USP. Para quem não sabe, eu fui aprimoranda no InCor lá nos idos de 2007 e gostaria de tecer aqui algumas palavras e considerações sobre esse assunto, sobre o evento de ontem, e sobre algumas pessoas que me são muito caras e que pude reencontrar.
O ano de 2007 foi um dos melhores, mais intensos e mais importantes anos da minha vida. Primeiro que a notícia de que havia sido aprovada no concurso para o aprimoramento foi a realização de um sonho – sempre quis trabalhar no HC, e escolhi o InCor pela estrutura de seu Serviço de Psicologia e pela liderança da Profa. Dra. Bellkiss Romano, um dos nomes mais importantes da Psicologia Hospitalar no Brasil. Mal sabia eu de tudo que iria viver ali. Muitos sorrisos e muitas lágrimas, muitas aventuras, muitos sucessos e muitos fracassos, frustrações, desesperos… mas principalmente e acima de tudo, muitos, mas muitos aprendizados. Foram aprendizados no âmbito da técnica da Psicologia Hospitalar, da Psicologia aplicada à Cardiologia, da teoria e da prática da Psicologia, da empatia e do cuidado com outro ser humano. Mas não foi só isso. Foram também aprendizados no âmbito da postura profissional, da autoconfiança, do aceitar desafios, do posicionamento frente às dificuldades, do lutar pelo que se acredita, da busca constante pelo conhecimento e pela excelência. Aprendizados no que diz respeito à vida e à morte, valores, forças e fraquezas. E aprendizados no que diz respeito às relações humanas e diversas de suas nuances, seja através dos pacientes seja através de colegas e da equipe multiprofissional.
Também tenho uma ou duas coisas para falar sobre algumas dessas relações. Em 2007, éramos 10 aprimorandas no InCor (e mais uma no Hospital Auxiliar do Cotoxó). Dez meninas, moças, quase estreantes no palco da vida profissional e absolutamente cruas no que diz respeito ao trabalho no psicólogo dentro do hospital. Dez origens, dez personalidades, dez bagagens e dez expectativas diferentes, jogadas dentro de um mesmo caldeirão. E como deu certo! Rapidamente, muito rapidamente, nos tornamos um grupo coeso, de apoio, de companheirismo, de incentivo, de muitas risadas e diversões, de choros, de tolerância, de compartilhamento, de aprender junto e de vibrar junto a cada conquista. Saímos de lá um ano depois, como diamantes lapidados, dispostas a enfrentar o mundo. E assim estamos fazendo até agora, cada uma a seu jeito, cada uma em seu lugar. Talvez não tenhamos tanto contato hoje em dia como gostaríamos, mas tenho completa ciência que muito do que eu vivi com essas meninas teve muita influência na mulher que eu sou hoje e na forma que eu me relaciono com as outras pessoas e com o mundo.
E tem mais ainda para falar. O ensejo do evento de ontem foi a comemoração dos 45 anos do Serviço de Psicologia do InCor. Nada disso teria acontecido (nem os 45 anos, nem o evento, nem esse texto, nem eu como sou hoje) sem a Dra. Bellkiss. Mulher forte, mulher persistente, mulher afetuosa, mulher inteligente e dedicada, mulher de fibra, mulher exigente, mulher sagaz e articulada, mulher brincalhona e cuidadosa, mulher preciosa. A cada interação, a cada contato, a cada supervisão, a cada conversa, um aprendizado. Até quando não estávamos em contato direto estávamos aprendendo com ela, porque a Dra. Bellkiss é assim: marcante até na ausência. Sua essência está impregnada naquele hospital e não há como passar incólume. A Dra. Bellkiss foi e é uma das mulheres que mais admiro na vida, e sou eternamente grata por ter passado por suas mãos. Ontem ela se despediu do InCor. Vai deixando um legado inegável, expresso pelo auditório lotado que foi prestigiar isso tudo. E vai com a certeza de que, para ela, para mim, e para todo o mundo que estava lá, como diz uma querida colega: a gente até pode sair do InCor, mas o InCor nunca sai da gente (ainda bem!).