O assunto hoje é saúde mental em tempos de covid-19.
Já entendemos que uma das saídas mais eficientes para prevenir contágios e
colaborar na contenção da pandemia é o isolamento. E um dos desafios desse
momento é cuidar da saúde mental, especialmente no que diz respeito a dois
aspectos: isolamento social e ansiedade.
Seres humanos são seres relacionais, somos dependentes do contato humano e entendemos a importância que interações sociais têm em nossa sanidade mental. Além da natureza humana, há também a questão cultural. Diferente de outros países, por exemplo os mais frios, o Brasil tem um povo naturalmente propenso ao calor humano, à socialização, à afetividade no contato social.
Claro que a quantidade de socialização necessária varia de pessoa para pessoa, há aqueles que precisam de contatos constantes e aqueles que ficam confortáveis mais distantes. Mas para todos é imprescindível a possibilidade de conexões. O isolamento pode causar sentimentos de insegurança, solidão e depressão, transtornos de ansiedade e afastamento da realidade.
Adicione-se a isso uma crise mundial de saúde acontecendo da porta para fora, e não é de se estranhar que uma velha conhecida nossa, a ansiedade, se intensifique (e muito!).
Conteúdos e notícias são produzidos e transmitidos 24 horas por dia, a maioria deles trazendo dados e cenários catastróficos. É muito fácil ser absorvido por tudo isso. Surgem preocupações com os idosos queridos, com a própria saúde, com a situação do país e do mundo, com o futuro, enfim, uma lista grande.
Além disso, a presença de um vírus sendo transmitido indiscriminadamente faz com que a sensação individual de estar no controle se dilua. Traz à tona também aspectos paranoicos, que coloca o indivíduo em uma sensação constante de estar à mercê de uma ameaça invisível.
Com tudo isso, torna-se bastante comum que as pessoas entrem em um espiral de ansiedade com sintomas físicos e psíquicos gerando grande angústia.
É preciso fazer um esforço consciente para minimizar esse fenômeno.
Algumas sugestões de enfrentamento:
– Lembre-se que o afastamento, obviamente, é só físico. Estamos entendendo cada vez mais que meios digitais, calls, conferências, lives, zooms, etc, são ferramentas potentes no que diz respeito à interação humana. Use e abuse delas!
– Encontre formas de trabalhar junto com outras pessoas que moram com você. Confinamento é difícil, as relações vão ficando mais intensas, os nervos vão gradativamente chegando à flor da pele. Converse, faça combinados, estabeleça limites.
– Defina horas específicas para informar-se sobre a situação do dia, e escolha fontes confiáveis de informação, evitando fakenews. Excesso de informação é prejudicial, nos deixa em estado de alerta constante, sobrecarrega o sistema nervoso e o psiquismo.
– Procure distrair-se! Nas horas de trabalho, trabalhe de verdade, concentre-se e aproveite para criar coisas incríveis. Ocupe o tempo com coisas que te tragam prazer e satisfação, aproveite para colocar em dia tudo aquilo que você queria fazer mas não tinha tempo.
– Quando notar que está entrando no espiral da ansiedade, coloque um basta. Esforce-se para pensar ou fazer outra coisa. Desligue a tv, feche a rede social. Encontre formas de dizer a si mesmo que, por mais difícil que esteja, isso vai passar. Por enquanto, é preciso aprender a tolerar o desconforto.
– Use o apoio de sua rede, das pessoas queridas. Conecte-se com elas, que estão na mesma situação. Mas, se a conversa entrou no espiral de ansiedade, coloque limite, mude de assunto, procure uma forma de não cair da armadilha do pânico compartilhado.
– Procure ajuda profissional. Se está sentindo que está perdendo o jogo para a ansiedade, se sentir que está perdendo o controle sobre o seu mundo interno, não hesite em procurar ajuda de psicólogos ou psiquiatras.
Aos poucos, vamos nos adaptando e lidando com os desafios que aparecem, um de cada vez. Ouso dizer que, quando tudo isso terminar, temos o potencial de sairmos como pessoas melhores: depois de ter colocado em prática a compaixão, a empatia e a solidariedade, de ter conhecido um pouquinho mais sobre nós mesmo, e de ter aprendido novas formas de viver e se relacionar.