Quem nunca se viu na situação da mocinha acima, que atire a primeira lamúria. O mundo é sempre muito rápido em condenar ou tentar ajudar a quem está reclamando. Mas é realmente muito frustrante quando a gente tenta desabafar – o que muitas vezes acontece em formato de reclamação – e, ao invés de encontrar um par de ouvidos, encontra uma boca falante cheia de “boas ideias”. Claro que a intenção é boa, há o desejo real de ajudar. Mas, em se tratando de psique, quase nunca as coisas são simples.
O fato é que, se as soluções para cada um de nossos problemas fossem fáceis assim, a gente já teria resolvido todos eles. Um problema só um problema quando sua solução está difícil, seja por questões práticas da vida, seja por questões internas que fazem com que a tomada de ação seja penosa, se não impossível. Sim, porque muitas vezes sabemos claramente qual seria a saída racional para determinada situação-problema. Mas as emoções, os sentimentos e mesmo aqueles nós que nem nos damos conta estão lá, mantendo-nos estagnados. Livrar-se disso tudo requer um trabalho muito mais profundo do que simplesmente um “faça isso ou aquilo” vindo de uma alma bem-intencionada.
Quando tudo vai bem, quando temos um problema para o qual achamos uma solução fácil, quando nos é possível encontrar saídas efetivas para as situações, não reclamamos. A reclamação só acontece quando há uma frustração, quando há algo que não vai bem, quando nos vemos presos em situações das quais, consciente ou inconscientemente, não encontramos recursos para nos livrar. E aí reclamar é preciso. E que bom seria, se, nessa hora, a reação do mundo fosse mais no sentido empático do acolhimento e compartilhamento da dor do que no sentido das soluções prontas e muitas vezes descabidas – na medida que desconsideram todo o mundo interno do reclamante.
Não estou dizendo para sairmos por aí reclamando da vida a torto e a direito, o dia inteiro e sobre tudo. Quando há frustrações e angústias, é sim necessário buscar soluções, algumas mais práticas, outras nem tanto. Pessoas com o perfil “reclamão” (todo mundo conhece alguém assim) ficam paradas no mesmo lugar, sem provocar mudanças efetivas na vida interna ou externa, o que traduz um sofrimento constante e que muitas vezes passa despercebido. A ajuda para essas pessoas também acontece através do acolhimento, da validação de sua dor, da compreensão de que há muito mais por trás do que está sendo dito e reclamado.
No final das contas, reclamar é um direito e uma necessidade. Há momentos mais e momentos menos adequados para uma sessão de lamúrias, e há pessoas mais e pessoas menos empáticas e acolhedoras para atender às nossas necessidades de reclamação. Importante, no final das contas, é saber diferenciar quando e para quem podemos, devemos, ou queremos reclamar.