Da fragilidade do ser, ninguém está imune. Mais que a fragilidade do corpo (tão em voga ultimamente), e até muitas vezes (mas não necessariamente) enraizada nela, falo das fragilidades emocionais – os românticos chamariam de fragilidades da alma. Corpo e alma, uma divisão conceitual que na prática revela uma intersecção de impossível dissociação.
O corpo adoece, as emoções são profundamente afetadas. E vice-versa. Cada ser humano se depara com um abismo dentro de si.
Há aqueles que se encorajam a jogar luz nesse abismo escuro e olhar para ele. Há os que fecham os olhos e tentam suportar o medo. Há os que encontram mil formas de desviar a atenção da mera existência desse lugar. E há os que se jogam no abismo, sem encontrar o fundo, e passam a cair eternamente.
Seja como for, é um caminho de inacreditável desamparo a ser atravessado. E aí entra a colossal importância das conexões, das pessoas que se importam.
Um olhar, um carinho, um acolhimento. Um “como você está hoje?” seguido de um interesse genuíno pela resposta. Um bolo de laranja feito com amor. Uma ligação, um ombro. Um “estou aqui se precisar de qualquer coisa”. Um gesto, uma gentileza, um delivery aleatório. Uma brincadeira, uma descontração carinhosa. Um café da tarde com bolachinhas de goiaba e boas conversas. Uma preocupação verdadeira que transparece.
Parecem coisas pequenas, mas carregam uma enormidade de significados. Para quem oferece, não custa muito (se de fato for verdadeiro!). Para quem recebe, dá desde um ânimo extra para enfrentar aquele momento até o combustível para a vida toda, passando pelo senso de valor e pela noção de que é possível ser querido e amado. Dá esperança.
E isso está longe de ser corriqueiro, seja em mês de prevenção ao suicídio, seja em tempos pandêmicos, seja em qualquer momento da vida – que por si só é difícil e carregada de dores e pequenos abismos.
Que cada pessoa possa atravessar seus abismos particulares quando se sentir incrivelmente fragilizada. E que cada pessoa possa ofertar um caminhar-junto quando encontrar no outro o desamparo e a escuridã