Desde muito cedo, somos acostumados a acreditar que cada aspecto da vida deve seguir um padrão determinado. Há o caminho profissional, em que se espera determinadas conquistas em espaços de tempo definidos. Há os relacionamentos afetivos, que devem acontecer em uma determinada ordem, de uma determinada forma e em determinado tempo. Há a vida emocional, na qual determinados sentimentos devem ou não acontecer perante uma situação. Há até a jornada de “desenvolvimento pessoal”, que prega o quanto você deve se conhecer e o quanto deve ter suas questões resolvidas em determinada etapa da vida.
E tudo isso serve para quem?
Para pouquíssimas pessoas.
É raro, muito raro, alguém não sentir que está desviando da rota. A gente toma caminhos diferentes na hora de desenhar a própria carreira, ou não desenhar nada e simplesmente fazer o que aparece. Os relacionamentos da vida acontecem de uma forma completamente desordenada, ou eles nem acontecem. A gente sente uma porção de coisas boas e uma porção de coisas não tão boas ao mesmo tempo, a gente ama e odeia a mesma pessoa, a gente tem vontade de matar pessoas legais e a gente perdoa pessoas não tão legais. Tem gente que acha que se conhece até o último fio de cabelo e na verdade está contando mentiras para si mesmo, e tem gente que tem uma clareza de si próprio que paradoxalmente se torna cegante.
E aí o que aparece é a decepção consigo mesmo, a frustração, a angústia de “não estar onde se deveria estar nessa fase da vida” ou de “não estar se sentindo como deveria estar se sentindo”. É um dever atrás do outro, que não respeita nenhuma individualidade.
Então hoje, logo após o carnaval quando em teoria podemos ser o que quisermos ser, ressalto a possibilidade de ser ou sentir o que quer que seja, a qualquer tempo, em qualquer época da vida. Não há tempo certo, cada um tem o seu. Não há sentimento certo, cada um tem os seus. Cada um tem a sua forma de lidar com isso tudo. Cabe a cada um tolerar ser aquilo que se é, entendo que não há nada de errado nisso!