Ultimamente, em diferentes ambientes e contextos, tenho me deparado com conversas sobre o amor e a dedicação à profissão Psicologia, no que diz respeito à prática clínica. Experiências trocadas por colegas em discussões de caso, relatos de grandes teóricos e exemplos práticos que vemos na clínica a cada semana são amostras da relevância que tem o amor quando se fala de um encontro terapêutico.
Acredito que muitas coisas além do “fala que eu te escuto” acontecem em uma sessão de psicoterapia, e mais ainda em um acompanhamento psicoterapêutico regular. Sentir-se escutado é realmente muito bom, mas sentir-se acolhido em suas dores por um profissional que está ali genuinamente envolvido por sua história é ainda mais poderoso. Sentar em uma poltrona ou deitar em um divã uma ou mais vezes por semana e falar livremente sobre o que lhe vier à cabeça é por si só um alívio, mas perceber que o psicólogo está conectado com a sua história de vida é fortemente terapêutico. Pensar junto com o psicólogo sobre suas questões, medos e ansiedades traz muitas novas luzes àquilo que causa desconforto, mas notar uma preocupação genuína do psicólogo com a sua dor possibilita experiências e sensações altamente reconfortantes.
Estamos falando de um cuidado que só um psicólogo que ama sua prática clínica pode proporcionar. Um psicólogo dedicado pode conhecer uma técnica impecável, mas se não houver amor ele dificilmente a colocará em prática, com todas suas nuances e complexidades. Um psicólogo dedicado pode encontrar seus pacientes semanalmente, mas se não houver amor não acontecerá um encontro de almas e corações, cheio de incertezas e vulnerabilidades, mas também extremamente enriquecedor. E quem se enriquece é o paciente, com possibilidades talvez inéditas de sensações, experiências e significados. Mas é também o psicólogo, com a percepção nada leviana de ter emprestado seu próprio coração para a necessidade de outra pessoa.
E, francamente, isso só é possível se houver amor.