A frase de Melanie Klein, psicanalista austríaca, diz respeito a tudo aquilo que tiramos de benefício próprio do não-saber. Enquanto a ignorância pode ser uma benção, o conhecimento muitas vezes pode nos colocar em posições bastante desconfortáveis. Isso é verdadeiro para a vida como um todo e os conhecimentos dos fatos gerais com os quais nos deparamos no dia a dia. Mas hoje gostaria de focar na ignorância e no conhecimento de si mesmo.
Muito se diz sobre a importância do autoconhecimento, e eu não questiono este valor. Porém, é preciso reconhecer que não se trata de um processo simples. Somos como somos e agimos como agimos em decorrência de questões bastante profundas e complexas; somos regidos, entre outras instâncias, por um inconsciente poderoso que só deixa vir à tona aquilo que lhe parece viável em determinado momento. Daí pressupõe-se que há um tanto de conteúdos que, embora exerçam grande influência naquilo que somos, permanecem escondidos de nós mesmos.
Conhecê-los é doloroso. Conhecer os aspectos sombrios de si mesmo é escancarar (para si e para o mundo) a própria fragilidade, vulnerabilidade. É deparar-se com sentimentos doloridos. É enfrentar questões distorcidas pelo acúmulo do tempo e de experiências, e que hoje causam sofrimento.
Comer do fruto do conhecimento de si mesmo é ser expulso do paraíso que é viver baseado em defesas que nos permitem existir confortavelmente no mundo. É difícil abrir mão de modos de ser e de ver o mundo. É difícil perceber a si mesmo como alguém diferente da própria imagem do espelho. Estudar a si mesmo é a arte mais difícil.
Mas depois disso tudo, para aqueles que tem coragem, há um novo paraíso. Um paraíso libertador, no qual o indivíduo passa a SER espontaneamente, baseando sua existência naquilo que lhe é próprio e singular – com falhas e fraquezas, sim, ninguém é perfeito e nem deveria ser. Basta reconhecer-se!