Seguimos em meio à crise mundial provocada pelo coronavírus, que colocou muitos de nós em uma situação de isolamento social forçada. Aqueles que tem o privilégio de ficar em casa vão a cada dia se adaptando mais, aprendendo mais sobre novas rotinas e também sobre si mesmos.
O isolamento tem tornado as coisas muito mais intensas. Existe uma teoria sobre as fases do confinamento. Segundo ela, a primeira semana traz uma sensação de férias forçadas, as pessoas estão cheias de ânimo para ficar em casa. Depois, vem o tédio, que leva as pessoas a buscarem novas formas de se entreter. Na sequência, vem a semana da tristeza, quando as pessoas ficam mais silenciosas. E então chega a fase de incertezas, quando não se sabe de nada e nenhuma perspectiva é possível, aumentando o potencial de ansiedade e depressão.
Some-se à esta teoria aquela da Kübler-Ross, que fala das 5 fases do luto (a saber: negação, ira, barganha, depressão e aceitação), temos um caldeirão de emoções à espreita para entrar em ação nesse período. E elas entram em ação de uma forma muito brusca. Os sentimentos estão mais viscerais, as paixões e os afetos estão sendo sentidos na carne. Cabe a cada um desenvolver (digo, colocar em prática) a capacidade de tolerar: aguentar aquele momento, com aquela dor, sabendo (tendo a certeza) que, mais cedo ou mais tarde, vai passar.
Outro ponto importante que cabe enfatizar é: a quarentena não tem criado nada novo, mas sim potencializado o que já existia dentro de cada um. Entendo que cada pessoa esteja se deparando com esse caldeirão de sentimentos que falei há pouco. Mas a forma que cada um experiencia isso tudo, o que se torna mais forte, o que predomina, o que paralisa, o que mais dói… é sempre pessoalmente definido por um conjunto complexo de questões e conteúdos preexistentes, mais ou menos conscientes. Medos, ansiedades, angústias, tristezas e desamparos que vieram à tona por conta da quarentena são reflexos desses mesmos aspectos que foram construídos e (provavelmente não) elaborados ao longo da existência e da história pessoal.
E isso abre uma oportunidade riquíssima de autoconhecimento! Cabe a cada um aproveitar essa oportunidade e ir atrás de entender o que está doendo, como essa dor se manifesta, e à que ela se relaciona. Não é fácil fazer isso sozinho (oi, psicoterapia/psicanálise), o nosso psiquismo é sagaz e se esforça para manter tudo bem disfarçado – nada como uma pandemia com sua realidade assustadora para servir de justificativa muito plausível para colocar coisas para fora.
Sei que tudo isso é complexo e às vezes, na quarentena e na vida, só queremos que tudo passe logo. Tudo bem se você precisar se render a esses momentos de vez em quando. A quarentena não é uma competição de produtividade, muito menos uma obrigação de desenvolvimento pessoal. Fique à vontade para só sentir. Mas, se no meio disso tudo aparecer o ímpeto para a reflexão sobre si, não o desperdice, faça bom uso dele e vá atrás de se conhecer um pouco mais, entender mais de si, e quem sabe até mudar alguns aspectos que não te servem mais!