É bastante comum no consultório (e na vida toda) ouvirmos queixas relacionadas à baixa autoestima. É a falta de sentir-se valoroso, é a sensação constante de não ser bom o suficiente, é o não reconhecimento de si como um sujeito relevante no mundo. Alguns chamam de falta de amor próprio, outros dizem que não acreditam em si mesmos, há aqueles que se sentem constantemente à prova – e claro que nunca se sentem aprovados. Estas pessoas realmente não acreditam que são capazes, de nada, nunca.
Penso que essa história de “baixa autoestima” está um pouco mal contada pelas crenças da sociedade. As pessoas chegam dizendo que sofrem desse mal, como se fosse culpa delas e como se elas fossem pessoas horríveis por não conseguirem nem ao menos se amar. Mas a estima (afeto, apreço) que temos por nós mesmos hoje é resultado de uma construção que durou (e ainda dura) a vida inteira. E essa construção não é individual. É uma construção baseada nas relações que estabelecemos desde muito cedo até hoje. Baseada no que foi nos dito sobre nós e nos espelhos que pudemos olhar durante a vida. Baseada nas percepções que temos das reações do mundo externo a cada vez que criamos ou produzimos algo, e a cada vez que falhamos ou fracassamos. Enfim, nossa chamada autoestima é resultado de um conjunto grande de fatores que dizem respeito às relações que pudemos estabelecer com o mundo.
Então, ao sofredor autoproclamado de “baixa autoestima”, saiba que o que você sente hoje não é resultado de um fracasso seu, não é resultado de uma inadequação inata que te acometeu, e também não é resultado de negligências que você pode ter cometido a si mesmo. Não. Na verdade, seu sentimento de inadequação e menos valia são indícios de que muitas coisas te aconteceram ao longo da vida, e você não tinha controle de grande parte delas. Pare de se culpar, e entenda que somos seres relacionais que dependem do outro para se estabelecer enquanto sujeitos no mundo. Comece a pensar em como foram suas relações e quais impactos elas tiveram no seu modo de se enxergar e enxergar a vida. E se precisar de ajuda nesse caminho de novos significados, não hesite em busca-la. Seu valor é muito maior do que você pensa, e não vale a pena viver a vida inteira subestimando-se!