Recentemente virou moda um aplicativo que transforma o rosto das pessoas em suas versões velhas. Uma avalanche de fotos de velhos apareceu nas redes sociais, pouco tempo depois de uma outra moda recente, a de tornar o próprio rosto na sua versão criança. Todo mundo postando fotos cuti-cuti com seus olhos arredondados e testas grandes.
É tudo uma brincadeira, eu sei. Eu brinquei também, fiz minhas fotos e dei bastante risada com algumas versões crianças e velhas de amigos. Mas, se toda brincadeira tem um fundinho de verdade, penso que a verdade dessa não reside nos traços gerados pelo aplicativo (não passam de mera especulação baseada em algoritmos), mas sim na busca pelas versões de si mesmo.
Como será que seria minha cara se eu fosse mais velha? A resposta para essa pergunta é fácil, alguns cliques lá no aplicativo e pronto. Mas ao se deparar com a nova foto de si mesmo envelhecida, vem mais algumas perguntas. O que será que eu estarei fazendo da vida nessa idade? O que estarei sentindo e pensando? Quais serão minhas frustrações e arrependimentos? Como será que vai ser, na vida real, essa versão de mim mesmo? As mesmas perguntas podem ser feitas ao olhar para a própria versão criança, é só mudar o tempo verbal.
A nossa identidade não é dada, é construída. Dia a dia, etapa por etapa. Um adolescente está nesse processo de construção a todo vapor. Mas isso não termina na entrada da idade adulta, é um trabalho constante ao longo da vida. Novas roupagens de identidade são experimentadas, algumas servem bem, outras não. Algumas escolhemos manter, outras infelizmente temos que deixar ir, pelos mais variados motivos, conscientes ou inconscientes.
Um aplicativo de celular pode nos dar vislumbres do que fomos e do que seremos. O que o aplicativo não pode fazer são as reflexões individuais acerca do próprio amadurecimento. Reflexões sobre quem fomos e quem seremos. E é a partir do momento que trazemos essas reflexões à consciência que podemos moldar ativamente a forma que vivemos o presente. Então pegue a foto de você mesmo envelhecido, dê uma boa olhada nesses traços e nessas rugas, e se pergunte: como o que eu estou fazendo, experimentando, pensando e sentindo hoje está construindo essa versão de mim mesmo amanhã?